quarta-feira, 18 de março de 2015

FALANDO DE SOMRAS II - ATRAVÉS DOS ARCANOS

BARALHO CIGANO 




MEDO: LEVANDO LUZ ÀS SUAS TREVAS

Carl Jung, o pai da psicologia analítica, diz que "não nos salvamos por imaginar o claro, mas pelo fato de tornarmos consciente o escuro". Em outras palavras, isso indica que ter a noção de que não somos nem bons nem maus, mas sim bons e maus, é importante para compreendermos nossa natureza. O Diabo nos faz encarar o espelho e dizer que somos nossas dores e nossas delícias, o branco e o preto convivendo dentro de nós e definindo escolhas e atitudes.
Este arcano está longe de ser um convite ao mal. Antes disso, ele é um convite à nossa inteireza, à noção de que somos e fazemos o bem ou o mal. Quantas vezes você já se sentiu vilão ou vilã de novela? E quantas vezes se identificou com a mocinha ou o mocinho? Esses papeis fazem parte do nosso repertório humano. E o Diabo, modelo de sombra, nos deixa cientes desses papeis.
Conhecer nossa própria sombra, portanto, nos permite constatar que não somos tão inofensivos. Confesse: às vezes você não adora uma fofoca e deseja que alguém que não gosta tanto aprenda certas lições na vida? Quanto menos reconhecermos o escuro em nós mesmos, mais depositamos no outro o que existe de mais cínico, hipócrita e perverso.
E também desconfie de quem vê a vida com felicidade absoluta. Quem embeleza a tudo e a todos, torna inócuo aquilo que não quer [mas que deveria] ver: as próprias sombras. A tendência em manter o sorriso no rosto em todas as circunstâncias demonstra o quanto a pessoa está desesperada consigo própria. O trabalho com o Diabo do Tarot é justamente esse: perceber e encarar nossas trevas com coragem, em vez de negá-las. Só vence monstros quem assume os seus próprios.
  

Tarot ajuda a encarar medos e dependências:
Arcano "O Diabo" convida você a enfrentar seu lado sombra

O Diabo, décimo quinto arcano maior do Tarot, representa a matéria física, as sensações e os desejos carnais. É a imagem do monstro de toda e cada aventura dos contos de fadas: ele possui o tesouro que o herói tanto busca. Somente essa figura bestial pode suscitar o protagonista a fazer valer sua coragem e independência.
Aludindo à nossa jornada cotidiana, a figura demoníaca é um convite para descobrirmos o que existe de pior em nós e transformar em lição e crescimento. Repare que na imagem do arcano duas pessoas estão acorrentadas ao pedestal em que a criatura se encontra. Podemos tomá-las como duas forças letais ao nosso crescimento pessoal: o medo e a dependência. A partir delas podemos desbravar novos caminhos e tomarmos atitudes prudentes nos piores momentos da vida. Basta querer. Vai encarar? Então dê um passo na escuridão.
 

DEPENDÊNCIA: O INFERNO SÃO OS OUTROS?

O filósofo Jean Paul Sartre afirma que somente através dos olhos alheios é que podemos ter ideia da nossa própria essência. Só a convivência é capaz de nos dar a certeza de que estamos fazendo as escolhas que desejamos. A ideia de que "o inferno são os outros" é válida, porque sem as pessoas com quem convivemos, nossa vida não teria sentido. Dependemos das pessoas, do início ao fim.
Mas depender dos outros, sobretudo de atitudes e opiniões, é mais um alerta do décimo quinto arcano do Tarot: você depende da aceitação alheia para ser quem é? Se respondeu "sim", então, definitivamente, você não se valoriza. Permanecerá na escravidão das impressões e não chegará na sua própria essência.
Muitas vezes, dependência é sinônimo de preguiça. Já reparou em quantas pessoas próximas a você são acomodadas e vivem reclamando de tudo e de todos? E quem tem voz para falar apenas de si em vez de se dedicar a ouvir um pouco mais? Isso mostra uma postura de quem não sabe firmar as rédeas dos problemas e tomar decisões importantes sobre a própria vida, dependendo de outras pessoas e circunstâncias para se descobrir realizado e notado. Mas confesse novamente: você também não age mais ou menos assim, às vezes? Para compensar essa falta de voz e poder pessoal, algumas pessoas acabam se tornando gananciosas e materialistas, querendo tudo ao mesmo tempo. E é a presença do Diabo, no Tarot, que ilustra nossas ambições - das mais corriqueiras às mais complexas. É encarando o quanto temos sido negligentes conosco e com os outros que damos um ultimato à dependência: decidir fazer por conta, sem esperar ajuda ou consentimento dos outros.
Enfrentar nossos monstros e romper amarras - eis o poder que O Diabo nos oferece nesse encontro. Sabedoria pessoal é sinônimo de reconhecimento e enfrentamento do que existe de pior em nós. Antes de ver essa carta como a simples e demoníaca representação de crenças religiosas, pense por analogia, extraindo o que pode ser útil ao seu desenvolvimento interior. Na hora de tomar atitudes impensadas e fazer julgamentos muito severos, pare e pense em você. É mais fácil enxergar o lado negro dos outros do que o nosso. O inferno pode ser uma simples criação sua!    Leo Chioda



15 - O DIABO

A carta do Diabo retrata um Sátiro, uma criatura metade homem e metade bode, dançando à música de uma siringe (flauta de sete tubos) que ele segura em sua mão esquerda. Com a mão direita, ele segura duas correntes, cada uma presa a um colar ao redor do pescoço de uma figura humana nua. As figuras - um homem e uma mulher - têm pequenos chifres como aqueles do Sátiro. Apesar de suas mãos e pernas estarem livres para dançar, eles estão presos às suas correntes de medo e de fascinação pela música. Ao redor, aparecem as paredes escuras da caverna.

Aqui encontramos o grande deus Pan que os gregos veneravam como o Grande Todo. Na Mitologia, Pan era filho de Hermes e da ninfa Dríope. 
Do nome Pan derivamos a palavra "pânico", afinal ele se divertia provocando pequenos sustos aos viajantes solitários. Ele era desprezado pelos outros deuses que, no entanto, exploravam os seus poderes. 

No sentido interior, Pan, o Diabo, é a imagem da sujeição ao mais rude e instintivo aspecto da natureza humana. Como o deus era venerado pelo medo, em cavernas e grutas, sua imagem dentro de nós sugere algo que tanto tememos quanto nos fascinam os rudes e primitivos impulsos sexuais que consideramos "maus" em razão de sua natureza compulsiva.

Desde o início da Era Cristã, o deus Pan foi estabelecido como a figura do Diabo, completo com seus chifres e trejeito irônico, e desprezado pelas pessoas "espirituais", como Apolo o desprezou, na Mitologia grega. Plutarco conta que, durante o domínio do imperador Tibério, um marinheiro que passava perto das Ilhas Equinades, no Mar Egeu, ouviu uma voz misteriosa chamando-o três vezes, dizen­do: "Quando chegar a Palodes, proclame que o deus Pan está morto". Isso ocorria no exato momento em que o Cristianismo nascia na Judeia.
Mas a presença dessa carta entre os Arcanos Maiores do Taro sugere que Pan não morrera, mas havia sido relegado aos recessos mais profundos do inconsciente, representando tudo aquilo que tememos, odiamos, desprezamos e, no entanto, nos mantém presos pelo próprio medo e desgosto.


O problema da vergonha do corpo e dos impulsos sexuais, particularmente os que a psicanálise tanto fez para trazer à luz neste século - fantasias de incesto, fascinação pelas funções corporais e excreções, o sentimento de ser sujo e mau, peludo, feio e inferior, são os que Pan, o Diabo, personifica. Até o homem, ou a mulher, mais "liberado" sexualmente pode sentir essa vergonha secreta a respeito de seu corpo. Podemos sentir alguma nobreza e romantismo no leão furioso na carta da Força ou nos obstinados cavalos da carta do Carro. Contudo, é mais difícil perceber nobreza em Pan. Mas, na Mitologia, Pan não era ruim, ele só era indomado, amoral e natural. A paralisia dos humanos que os leva ao terror e à fascinação cria o problema. Acarta do Diabo implica bloqueios e inibições, geralmente sexuais, que surgem pela falta de compreensão do deus. Apesar de feio, ele é o Grande Todo - a vida nua e crua do próprio corpo, amoral e rude, mas assim mesmo um deus. A energia empregada em manter o Diabo em sua caverna, vergonhoso e oculto, é energia perdida para a personalidade, mas que pode ser liberada com um efeito imensamente poderoso se tivermos a coragem de encarar Pan.


Por conseguinte, devemos aprender a enfrentar com humildade , os nossos próprios aspectos mais inferiores e mais vergonhosos, ou permanecerá eternamente preso aos seus próprios medos. Então, para poder esconder esse segredo vergonhoso, ele deve pretender ser superior e, assim, projeta a sua parte animal em outras pessoas, levando ao preconceito, à inveja e até a perseguição de indivíduos e de raças que, para ele, são "maus".

No sentido divinatório, a carta de Pan, o Diabo, implica a necessidade de um confronto com tudo o que na personalidade seja sombrio, vergonhoso e inferior. O Louco deve libertar-se adquirindo conhecimento e, por meio da aceitação honesta e humilde de Pan, deve liberar o poder criativo que está acorrentado ao seu próprio pânico e autodesprezo. E, assim, ele chega ao coração do Labirinto e enfrenta a sua própria escuridão nas sombras essenciais de seu corpo para tornar-se o que ele sempre foi - simplesmente natural. (Livro - O Tarô Mitológico de Juliet Sharman-Burke e Liz Greene).



PERGUNTAS INCÔMODAS PARA RESPONDER NA FRENTE DO ESPELHO

 

O quê você anda escondendo embaixo de seus tapetes?
Qual é o seu maior medo, neste momento?
Você se considera uma boa pessoa?
O que é o mal? E o que é o bem?
Como você lida com a inveja, o ciúme e a ambição?
Para você, desejo vem antes da necessidade? Por quê?
Por que você precisa chamar a atenção dos outros?
Até onde vai sua vaidade?

É escritor e tarólogo: Leo Chioda

Nenhum comentário:

Postar um comentário